O
papa Francisco reconheceu pela primeira vez em público as
"incoerências" da Igreja e, em plena Jornada Mundial da Juventude,
costura politicamente sua reforma da Cúria - que será iniciada assim que
retornar a Roma.
Durante
a via-crúcis realizada na sexta-feira, 26, na Praia de Copacabana, o pontífice
fez um mea-culpa, diante de uma Igreja que ele assumiu. Em um recado a todos
que estão insatisfeitos com as instituições católicas, pede que voltem a
colocar Cristo no centro de suas vidas. "Jesus se une a tantos jovens que
perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de
ministros do Evangelho", declarou o papa.
Em
pouco mais de quatro meses de pontificado, Francisco tem evitado temas como os
escândalos sexuais da Igreja. Mas sabe que os problemas afetaram de forma
profunda a imagem e a credibilidade do Vaticano. Parte deles vem justamente de
dezenas de padres e bispos que, por anos, abafaram escândalos em comunidades,
enquanto a Santa Sé fez vista grossa.
Sua
referência no discurso de ontem foi um sinal, segundo o Vaticano, de que o papa
sabe que precisa lidar com esse assunto em algum momento. E, de uma forma mais
geral, terá de começar a passar dos símbolos a uma concretização de suas
promessas de mudanças.
Fontes
do Vaticano admitiram que o papa tem colocado a reforma da estrutura da Igreja
como prioridade e, nos últimos meses, tem dedicado uma parte importante de seus
dias para estudar formas de promover a mudança.
Seu
cronograma não mudou, nem mesmo durante sua estada no Rio. Na terça-feira,
enquanto o Vaticano anunciava que seu dia havia sido de "descanso", a
realidade é que o papa usou o momento para se reunir com grupos religiosos e
cardeais latino-americanos para estudar projetos de reforma. Na residência do
Sumaré, promoveu reuniões de trabalho, recebeu lideranças e discutiu planos
concretos.
A
principal meta é a de criar uma estrutura que permita que brigas pelo poder
sejam diluídas e uma gestão moderna seja implementada em um órgão de séculos,
que há muito tempo não é modificado.
Bispos.
Mas, para realizar a reforma, Francisco já foi alertado que terá de construir
consensos e atrair propostas "das bases". Isso porque, em parte da
Cúria, o papa poderá encontrar certa resistência e, para superá-las, terá de
convencer que o projeto não é apenas dele, mas o resultado de debates. Na prática,
isso está sendo traduzido em um apelo para que bispos de várias regiões
apresentem ideias e projetos.
O
cardeal brasileiro João Braz de Aviz disse que, nas próximas semanas,
"boas notícias" serão dadas, em uma referência a mudanças que serão
anunciadas. "O papa vai mostrar que podemos ter uma Igreja mais leve, mais
simples", declarou.
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