"Pula a Fogueira"
Padre Reginaldo Carreira - Revista Família Cristã Pag. 28
A palavra é essa: "pula
a fogueira", e não "pise na fogueira"! Parece óbvio, mas não é.
Em alguns lugares, ainda persiste o costume de demonstrar a fé pisando em
brasas, sofrendo algum tipo de dor, suportando literalmente a cruz, com direito
a pregos e tudo. A tradição das festas juninas também levava o devoto a passar
pelas brasas (rapidinho, é claro), para demonstrar sua fé e coragem. Nos pés
daqueles que, na maioria, trabalhavam nas roças, pés calejados pelo trabalho
árduo dos plantios e colheitas, não ficavam muitas marcas. Para os pés da
grande maioria da população de hoje, as consequências seriam desastrosas, e,
por vezes, cômicas, se não fossem trágicas!
É, os tempos mudam! Alguns
costumes também. O sacrifício tem seu
tem seu valor e necessidade, mas, na verdade, a fé se demonstra com obras de
amor-caridade, muito mais do que com sacrifícios ou "loucuras".
Mas o tema é interessante para servir de apoio a uma reflexão oportuna. Como
citado acima: se fala em pular a fogueira e não em pisar nela. Como brincadeira
nas festas juninas ainda dá para compreender, mas como diz o ditado:
"Quem brinca com fogo
acaba se queimando': Vendo por esse lado e pensando na nossa espiritualidade,
às vezes acabamos nos "queimando': por acharmos que somos fortes demais,
que não cederemos às tentações, que não cairemos naquela conversa, que não
seremos influenciados por aquele discurso, aquela convivência ou aquele suposto
amigo.
Conhecer a voz - Sábias eram
as ovelhas que não seguiam a voz dos estranhos e, mais ainda, fugiam dessas
vozes, porque não lhes eram conhecidas, como ensinava Jesus (cf. Io 10,5).
Podemos entender que aquele que conhece a voz do Bom Pastor, ou seja, Jesus calcula
os riscos e não se permite cometer pequenos deslizes. Mesmo porque são os
pequenos erros que abrem espaços aos grandes pecados. É o olhar de cobiça (real
ou virtual), que abre espaço para a traição e o adultério; é a palavra
agressiva, que abre espaço para a violência de fato; é o pensamento ambicioso,
que cede à tentação do dinheiro fácil, do tráfico de drogas e outros crimes; é
o primeiro gole, que derruba o alcoólatra; o primeiro cigarro, que escraviza o
dependente; o pequeno "desvio de verbas': que faz o grande corrupto.
Será que não temos nos
arriscado demais? Afinal, vemos nos meios de comunicação uma tentativa cada ,
vez mais insistente de destruir conceitos e valores, em nome de uma
pseudoliberdade. E ainda acabamos por achar tudo normal e bom, desde que seja
de acordo com o que cada um quer.
Penso que o mais sensato é
ouvir o que a Palavra de Deus ensina: calcule os riscos. Não se enfrenta o
inimigo se não se está pronto (cf. Lc 14,31). É claro que temos armas
espirituais capazes
de enfrentar o inimigo, e é
ele quem fugirá de nós; mas tanto quanto é errado temer o inimigo, tratando-se
do campo da fé, também é errado subestimá-lo. Há momentos em que até podemos
passar correndo pela fogueira sem grandes consequências e com a vitória
garantida. Mas precisaremos ter os pés calejados por um trabalho árduo e
seguro, dia após dia, cultivando o conhecimento e a alegria da fé. Em outros
momentos, fuja da tentação e não se aproxime tanto, pois quem brinca com fogo
acaba se Queimando ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário